Palestrante cobra reconhecimento de travestis e transexuais

A violência contra a comunidade LBT, contra prostitutas e nas escolas é abordada em debate no Plenário da ALMG.

Os debates também abordaram as questões de gênero nas escolas e a violência contra prostitutas - Foto: Clarissa Barçante

“A sociedade tem que entender que travestis e transexuais são pessoas. Sou uma mulher travesti com muito orgulho. Travesti é um nome de luta”. Esses foram alguns desabafos feitos, na manhã desta quinta-feira (3/3/16), pela presidenta do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG) e representante, em Minas Gerais, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Anyky Lima. Ela foi uma das palestrantes do painel "Múltiplos olhares sobre as violências contra as mulheres", que abriu o segundo e último dia do Ciclo de Debates Dia Internacional da Mulher – Mulheres contra a Violência: Autonomia, Reconhecimento e Participação, no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Além da violência contra lésbicas, bissexuais e transexuais (LBT), os debates da manhã abordaram as questões de gênero nas escolas e a violência contra prostitutas. Os trabalhos da manhã foram coordenados pela deputada Geisa Teixeira (PT) e acompanhados pelas deputadas Marília Campos (PT) e Ione Pinheiro (DEM).

 Anyky Lima disse que a violência contra travestis e transexuais é constante - Foto:Clarissa Barçante


Em uma exposição emocionada, Anyky Lima disse que aos 12 anos foi expulsa de casa e, na ocasião, teve raiva da sua família. “Hoje sei que a culpa não foi da minha família, foi da opressão da sociedade, da humilhação”, disse. Ela ressaltou que a violência contra essa comunidade é constante, já que sofre agressão nas ruas, é humilhada, roubada e muitas são assassinadas. “Sou travesti e consegui sobreviver e chegar aos 60 anos sem ser assassinada. Até hoje vejo isso acontecer, em todo o Brasil”, apontou. E lembrou: “até hoje sinto o calor da mão de um policial na minha cara”.

Ela pediu que a sociedade olhe para essa população e que reconheça seu valor. Para Anyky, são pessoas como outra qualquer, que devem ter os mesmos direitos. Nesse sentido, cobrou a aprovação de dois projetos de lei (PLs) da deputada Marília Campos, tramitando na ALMG. O primeiro - PL 1.831/15 - que cria o Conselho Estadual de Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. O outro é o PL 1.829/15, que dispõe sobre o reconhecimento e direito do uso do nome social para travestis e transexuais nos órgãos da administração pública estadual.

A deputada Geisa Teixeira pontuou que as palavras de Anyky "emocionam e entristecem", porque elas mostram a violência que estes jovens sofrem. “Hoje queremos dar voz às mulheres, mostrando suas dores e dificuldades, e, principalmente, que tenhamos ações concretas, para acabar com essa cultura que, infelizmente, mata e torna tantas mulheres vítimas de violência”, disse a parlamentar.

 Júnia Pereira falou sobre a violência e as questões de gênero nas escolas Júnia Pereira falou sobre a violência e as questões de gênero nas escolas - Foto: Clarissa Barçante
Banalização da violência – Também palestrante do painel da manhã, a subsecretária de Estado de Informação e Tecnologias Educacionais, Júnia Sales Pereira, abordou a violência e as questões de gênero nas escolas. Para ela, a violência contra a mulher não deve ser hierarquizada e banalizada, uma vez que foi silenciada historicamente e socialmente. “Não podemos criar uma agenda seletiva. Toda violência é condenável”, disse. Para ela, a violência de gênero ocorre em relações hierarquizadas e assimétricas, denotando uma relação desigual ou de subordinação. 

Júnia Sales Pereira reforçou que o registro do fato é fundamental para romper com sua invisibilidade, para que a escola não trate esse problema de maneira banal e para dar apoio às vítimas. Segundo ela, a Secretaria de Estado de Educação tem o desafio de realizar o diagnóstico das ações em curso nas escolas e, ao mesmo tempo, garantir um ambiente seguro de registro de ocorrência e de registro de percepção da violência com vistas à abordagem consciente e responsável da questão.

Ela explicou que a agenda pedagógica ampliada incorpora todas as agendas de enfrentamento das formas de violência. Nesse sentido, citou os três mil projetos em andamento nas 3.654 escolas estaduais, sendo que 91 relacionam-se à abordagem da relação de gênero, diversidade e sexualidade.

Em relação à Secretaria de Educação, Júnia informou que uma série de ações estão em curso, “para formular, implementar, acompanhar e aprimorar políticas públicas”. Entre elas, citou a campanha Convivência Democrática, a campanha Afro-Consciência, a divulgação do gibi sobre a Lei Maria da Penha e a publicação de cadernos temáticos.

Violência contra as prostitutas ainda é invisível


Segundo Maria Aparecida Vieira, os maiores problemas são os abusos físicos, sexuais, psicológicos e sociais Segundo Maria Aparecida Vieira, os maiores problemas são os abusos físicos, sexuais, psicológicos e sociais - Foto:
A coordenadora-geral da Associação de Prostitutas de Minas Gerais, Maria Aparecida Menezes Vieira, também foi uma das palestrantes no painel “Múltiplos olhares sobre a violência contra as mulheres”. Em sua participação, ela destacou que a violência cometida contra as garotas e garotos de programa é invisível para a população.

De acordo com ela, o ambiente de trabalho por si só já deixa este segmento social vulnerável e que os programas de governo não contemplam essas profissionais, em especial os voltados para a saúde integral. “Não há levantamento estatístico, o que torna impossível definir mecanismos de defesa governamentais para as prostitutas. É preciso desenvolver trabalhos governamentais para inibir a violência e reforçar nossos direitos”, cobrou.

Maria Aparecida afirmou que sequer os órgãos de direitos humanos abraçam a causa das prostitutas. Para ela, os maiores problemas são os abusos físicos, sexuais, psicológicos e sociais. “A banalização da violência é acentuada com as prostitutas, que não tem voz nem espaço. Queremos dar visibilidade a este problema”, salientou.

Ainda em sua fala, ela disse que a sociedade é conservadora e preconceituosa, o que torna a questão mais moral e religiosa que social. “Temos o direito de denunciar e processar qualquer pessoa que cometa atos de violência contra as prostitutas. Temos que unir forças para fazermos parte dos espaços de poder”, completou.

Desdobramentos - Ao final, a deputada Marília Campos foi questionada sobre os desdobramentos do ciclo de debates. A parlamentar afirmou que o mais importante é a luta contra a exclusão das mulheres e, portanto, espera que o evento seja o ponto de partida para outras mobilizações e debates. “Peço para que as entidades procurem a Comissão de Participação Popular sempre que quiserem discutir um tema ou fazer alguma denúncia. Nossa atuação deve ser permanente”, finalizou.

 Assessoria de Imprensa
Telefones: (31) 2108-7715 / 2108-7481
Fale com a Assessoria de Imprensa
Acesse a Sala de Imprensa com notícias e banco de fotos

Comentários

potagens mais vistas

Gaspar de Souza ,disponibiliza seus trabalhos de reportagens com qualidade para Radio Agora Minas

A Festa do Carro de Boi da Cachoeira, que está completando 25 anos, tem seu calendário confirmado

Sindiveg apoia workshop sobre uso de drones na pulverização de defensivos agrícolas, da AgroEfetiva

Musical mostra a última obra de Clarice Lispector

Projeto da Prefeitura garante inclusão do pó de basalto no Plano Safra 2022/2023

30º Seminário do Café será em setembro em Patrocínio

O poder do perdão: entenda como superar sentimentos de mágoa e vingança podem contribuir para a saúde e vida plena

Atração infantil inédita 'Banheira dos Patinhos' chega ao Center Shopping Uberlândia

Plantão Digital: Fiemg Alto Paranaíba repassa equipamentos